• Conheça nosso jeito de fazer contabilidade

    Com ética, honestidade, comprometimento, segurança, confiabilidade, respeito, qualidade, satisfação,e trabalho em equipe.

    Entenda como fazemos...

Notícia

BC reduz juros básicos, mas bancos ampliam seus ganhos nas operações

Sete anos, total do crédito nos bancos sobe de R$ 607 bi para R$ 2,03 tri

Autor: Ronaldo D'ErcoleFonte: Jornal O Globo

Mesmo com a queda dos juros básicos da economia (Selic) e a forte expansão do crédito nos últimos anos, os bancos brasileiros resistem em reduzir os spreads (diferença entre a remuneração que pagam aos investidores e o que cobram nos financiamentos aos clientes) e, pior, eles vêm aumentando as margens de ganho sobre empréstimos. É o que mostra estudo exclusivo da consultoria Austin Rating.

Com base em informações do Banco Central, a Austin identificou que, enquanto a Selic caiu de 18% ao ano, em dezembro de 2005, para 10,25% em fevereiro deste ano, os spreads médios nos bancos variaram de 28,6 para 28,4 pontos. No entanto, a fatia que vai para o caixa dos bancos (margem líquida) subiu de 29,64% para 32,73%.

Os números compilados pela Austin mostram que os custos administrativos e com compulsórios caíram nesse período, mas em vez de diminuir as taxas para o tomador final, os bancos aumentaram a parte do spread destinada a cobrir impostos, e também elevaram seus ganhos (margem líquida). Para os especialistas, isso contribuiu para os lucros recordes do setor nos últimos anos. Procurada, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou por meio de sua assessoria que não se pronunciaria sobre o assunto.

Considerando que a participação da margem líquida no spread cresceu a uma média 0,6 ponto percentual ao ano no período, pode ter alcançado 33,3% no fim de 2011, segundo a Austin.

— Os números mostram que os bancos aumentaram margens de ganho, o que não tem justificativa — diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin.

Nos últimos sete anos, o volume de operações de crédito contratado pelos bancos passou de R$ 607 bilhões para R$ 2,03 trilhões, um avanço de cerca de 250%. Esse movimento fez com que os empréstimos passassem a responder por mais da metade (51,6%) das receitas dos bancos com intermediação financeira e serviços em 2010. Em 2011, com as restrições ao crédito baixadas pelo governo para segurar a inflação, essa fatia recuou para 47,58%, muito superior aos 42,8% de dezembro de 2005.

Dez maiores bancos detêm mais de 90% do crédito

Pesquisa do Banco Central, divulgada semana passada, mostrou que os bancos voltaram a subir juros em fevereiro: a taxa média para empresas e pessoas físicas no crédito livre, sem destinação específica, passou de 38% para 38,1% ao ano. Já, no crédito pessoal foi de 50,3% para 50,6%.

A justificativa para mais essa rodada de elevação nos juros recai sobre a inadimplência em alta. O que é verdade. A taxa de inadimplência nos empréstimos bancários (prestações com atrasos maiores que 90 dias) em fevereiro era de 7,6%, acima dos 7,4% de dois meses antes, e longe ainda dos 5,7% em dezembro de 2010. Indicadores de inadimplência como o da Serasa Experian, que computam os atrasos em pagamentos de toda a economia, já sinalizam uma reversão de tendência. O índice da Serasa vem caindo desde novembro, mas em março ainda estava 17% acima do medido um ano antes.

— Do fim do ano para cá, observamos que há uma queda na inadimplência em geral, que deve começar a aparecer nos indicadores do BC agora, a partir deste mês. Daí, haverá espaço para os juros na ponta do consumidor voltarem a recuar — diz Luiz Rabi, gerente de mercado da Serasa Experian.

A inadimplência, lembrou, obriga as instituições a elevarem provisões contra perdas, e esse custo equivale a quase um terço da taxa adicional que o banco cobra nos empréstimos (spread).

O governo, particularmente o ministro Guido Mantega (Fazenda), vem pressionando os bancos e promete medidas para que os juros caiam mais. Como na crise de 2008, o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem ser chamados a atuar mais agressivamente, reduzindo taxas das linhas de crédito.

Especialistas não veem espaço para alívio significativo no bolso dos tomadores de empréstimos no curto prazo. A Selic deve cair mais 0,75 ponto percentual até dezembro. A portabilidade bancária, que permite ao correntista migrar um empréstimo de um banco para outro com juros menores, "não pegou". E não há sinalização efetiva de que o governo aliviará outros custos, como compulsório, encargos fiscais e impostos — mais de 23% dos spreads.

— É preciso atacar cada um dos pontos que pesam nos spreads, mas em condições normais os juros não cairão bruscamente. O que vai contribuir mais para a redução das taxas será o recuo da inadimplência, que não terá queda expressiva — diz Rabi.

A concentração bancária — os dez maiores bancos têm mais de 90% do crédito — é outro entrave para o país deixar o topo do ranking dos países com juros mais altos do mundo, diz o advogado Marcelo Freitas, sócio do escritório Siqueira Castro.