• Conheça nosso jeito de fazer contabilidade

    Com ética, honestidade, comprometimento, segurança, confiabilidade, respeito, qualidade, satisfação,e trabalho em equipe.

    Entenda como fazemos...

Notícia

Indústria lidera pedidos de falência de grandes empresas

Para as grandes empresas, com faturamento líquido anual superior a R$ 50 milhões, no entanto, o salto foi muito maior, de 212,5%.

Autor: Tainara MachadoFonte: Valor Econômico

O baixo crescimento de 2011 - puxado pela estagnação da indústria - provocou um aumento nos pedidos de falência. Levantamento mensal da Serasa Experian apontou que, no primeiro bimestre deste ano, os requerimentos aumentaram 4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Para as grandes empresas, com faturamento líquido anual superior a R$ 50 milhões, no entanto, o salto foi muito maior, de 212,5%.

No primeiro bimestre, os credores pediram a falência de 50 companhias de grande porte, das quais 56% pertencem ao setor industrial. Para Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, esse resultado é decorrente de um ambiente internacional altamente instável, aliado às restrições impostas pelo baixo crescimento da indústria nacional, o que leva fornecedores ou bancos a usar esse instrumento como proteção contra eventuais atrasos nos pagamentos. "É um espelho da economia entre o fim de 2011 e o início deste ano. A inadimplência das empresas está subindo porque a baixa atividade econômica e as receitas menores diminuem a capacidade de pagamento", afirmou o economista.

Assim como as famílias, avalia Almeida, as empresas também estão mais concentradas em pagar dívidas do que tomar novos empréstimos. Segundo o Banco Central, o crédito ao setor privado em janeiro recuou 0,2% em relação a dezembro, ao totalizar R$ 1,9 trilhão. Para a indústria, a queda foi de 1,4%, para R$ 412 bilhões.

Para Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, esse dado é, em parte, reflexo de efeitos sazonais, já que no início de ano é comum que a demanda por crédito recue. "Mas é também um problema da retração da atividade para o setor industrial, o que deve se prolongar ao longo deste ano", afirma.

Douglas Uemura, economista da LCA Consultores, também não descarta que o desempenho da indústria fique aquém das estimativas neste ano. Por enquanto, a LCA projeta aumento de cerca de 2% para a produção industrial. "A indústria já vem fraca há algum tempo e o começo de 2012 não parece promissor. O problema é que esse cenário já teve influência na inadimplência e apareceu em fevereiro como aumento do número de falências requeridas."

Em janeiro, houve retração de 2,1% da produção em relação a dezembro, feitos os ajustes sazonais. Apesar da queda ter sido em parte puxada pelo mau desempenho do setor automobilístico, a produção caiu em nove das 14 regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na mesma base de comparação.

Para Alcides Leite, professor da Trevisan, o ambiente de dificuldade para a indústria não deverá ser revertido ao longo do ano. Incentivos como a queda da taxa básica de juros, hoje em 9,75% ao ano, e redução da inflação, por exemplo, tendem a ser sentidos mais pelo comércio e pelos serviços. "Hoje, o setor industrial é mais impactado pela perda de competitividade do que pelo custo do crédito", afirma.

Para Uemura, o crédito funcionará em 2012 como mais um limitador do crescimento industrial. A concessão de empréstimos, projeta, deve ter novo salto neste ano, com crescimento próximo a 18%, leve desaceleração em relação ao aumento de 19% observado em 2011. Mas o que estimulará esse avanço, no entanto, será o consumo das famílias e o crédito imobiliário, realidade que vem sendo observada há quase uma década.

Como proporção do saldo total de crédito na economia, a indústria vem perdendo participação desde 2002. Em setembro daquele ano, as operações de crédito ao setor industrial representavam 31,75% do total disponível para a economia, entre empréstimos de bancos públicos, privados e estrangeiros. O comportamento foi decrescente desde então: em janeiro, a participação da indústria foi de 20,33%. O espaço foi tomado, principalmente, pelo crédito à pessoa física, que passou de 14,85% para 31,47% no mesmo período. Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, esse quadro é reflexo da política econômica do governo, com estímulo ao crescimento via consumo, enquanto a indústria pena com a perda de competitividade e o câmbio valorizado.

Com os bancos atentos a esse cenário, eles ficaram mais reticentes para realizar novos empréstimos. "Os bancos estão mais seletivos", diz Luiz ALberto Paiva, sócio-diretor da Corporate Consulting, especializada na recuperação de empresas. Ele diz que o mercado está enfrentando um problema de liquidez e que parte das empresas não está conseguindo fazer frente aos compromissos por causa das vendas no varejo em níveis mais baixos e estoques ainda altos.

Santacreu, da Austin Ratings, corrobora essa visão. "Os bancos estão cautelosos na concessão de crédito à pessoa jurídica, pois estão percebendo as dificuldades que as empresas, principalmente do setor industrial, estão enfrentando", afirmou. As medidas anunciadas pelo governo até agora, como desonerações fiscais para segmentos selecionados e incentivos à exportação podem não ser suficientes para reforçar a confiança do setor bancário na retomada da indústria. "O crédito para pessoa jurídica está sendo analisado com lupa, com reforço de garantias", afirmou.

O Banco Central, observa ele, pode estimular os bancos a emprestar por meio da redução dos juros e do relaxamento das medidas macroprudenciais, mas caberá às instituições financeiras a análise do risco envolvido nas concessões, em um período em que o cenário internacional continua conturbado. O crédito direcionado, como os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz Santacreu, pode ser reforçado se o setor financeiro privado mostrar-se mais cauteloso.